Sociólogo francês, professor de Sociologia na Escola Normal Superior de Lyon, na França fala sobre sucesso escolar em meios populares.
Nascido e criado em um bairro operário, o sociólogo francês Bernard Lahire foi o primeiro em sua família a chegar à universidade. Isso o levou a questionar as razões do fracasso escolar e também do sucesso, estatisticamente improvável, nos meios populares. "Eu queria compreender por que minha irmã, meus primos e meus amigos enfrentaram dificuldades na escola, e o que havia me conduzido a um caminho incomum." A pesquisa sobre o tema originou o livro Sucesso Escolar nos Meios Populares (368 págs., Ed. Ática, tel. 4003-3061, edição esgotada).
Nesta entrevista, Lahire defende que o meio social é crucial ao desenvolvimento das crianças, pois sozinhas elas não conseguem superar as dificuldades com que se deparam. O especialista alerta que, para reverter o quadro atual de fracasso escolar em regiões vulneráveis, é essencial investir em políticas públicas que melhorem o ambiente social e a estrutura das escolas de periferia.
Nesta entrevista, Lahire defende que o meio social é crucial ao desenvolvimento das crianças, pois sozinhas elas não conseguem superar as dificuldades com que se deparam. O especialista alerta que, para reverter o quadro atual de fracasso escolar em regiões vulneráveis, é essencial investir em políticas públicas que melhorem o ambiente social e a estrutura das escolas de periferia.
Seus primeiros trabalhos falam de um assunto comum no Brasil: o fracasso escolar nos bairros mais pobres. Qual a relação entre Educação e classe social?
BERNARD LAHIRE A Educação vem do ambiente social. O fato de que ela seja diferente conforme o meio é um dado comum a todas as sociedades desiguais. Bairros pobres normalmente têm escolas com menos estrutura e famílias com baixo capital cultural, que muitas vezes não ajudam no desenvolvimento do aluno. É triste, mas nesse contexto a criança está fadada ao fracasso. Repito, tudo vem do ambiente social, dos obstáculos aos sucessos. Um estudante não consegue sair sozinho de suas dificuldades de aprendizagem, as influências externas são fundamentais - seja o apoio de um familiar, de um amigo estudioso ou de professores competentes.
O que se entende por capital cultural?
LAHIRE Significa ter acesso a diversos elementos que desenvolvam a cultura, de objetos materiais a formas abstratas. Ter uma biblioteca em casa, onde os pais possam explorar com os filhos diversos escritores e obras, é um exemplo. O capital cultural pode ser transmitido para as crianças de muitas maneiras, mas está presente fundamentalmente no círculo familiar.
Como essas interações cotidianas com a família e a formação cultural repercutem na aprendizagem?
LAHIRE A leitura, por exemplo, está relacionada com a escrita. Se os pais leem histórias aos filhos desde pequenos, isso vai permitir uma melhor compreensão e aprendizagem da escrita, desde a identificação de elementos até a construção de um texto, com introdução, desenvolvimento, conclusão e uma mensagem para a reflexão. A família tem esse poder de dar as ferramentas do sucesso. Sem mencionar que esses momentos em que pais e filhos leem juntos são de cumplicidade, de partilha, de troca, de despertar o espírito de curiosidade na criança.
Que políticas públicas diferenciadas deveriam ser criadas para escolas em ambientes vulneráveis, nos quais muitas crianças não têm acesso a esse capital cultural?
LAHIRE Mais investimento em estrutura: bons professores, bons equipamentos, boa equipe pedagógica. Assim, será possível oferecer aos estudantes, na escola, auxílios que alguns podem não ter fora dela. Por exemplo, dar oportunidades a crianças pobres de fazer uma viagem escolar, dar-lhes acesso a livros, oficinas e cursos de arte e música. A escola é a estrutura estável de quem vive numa família instável. Ela precisa trabalhar junto com os pais para facilitar a harmonização entre esses dois ambientes.
BERNARD LAHIRE A Educação vem do ambiente social. O fato de que ela seja diferente conforme o meio é um dado comum a todas as sociedades desiguais. Bairros pobres normalmente têm escolas com menos estrutura e famílias com baixo capital cultural, que muitas vezes não ajudam no desenvolvimento do aluno. É triste, mas nesse contexto a criança está fadada ao fracasso. Repito, tudo vem do ambiente social, dos obstáculos aos sucessos. Um estudante não consegue sair sozinho de suas dificuldades de aprendizagem, as influências externas são fundamentais - seja o apoio de um familiar, de um amigo estudioso ou de professores competentes.
O que se entende por capital cultural?
LAHIRE Significa ter acesso a diversos elementos que desenvolvam a cultura, de objetos materiais a formas abstratas. Ter uma biblioteca em casa, onde os pais possam explorar com os filhos diversos escritores e obras, é um exemplo. O capital cultural pode ser transmitido para as crianças de muitas maneiras, mas está presente fundamentalmente no círculo familiar.
Como essas interações cotidianas com a família e a formação cultural repercutem na aprendizagem?
LAHIRE A leitura, por exemplo, está relacionada com a escrita. Se os pais leem histórias aos filhos desde pequenos, isso vai permitir uma melhor compreensão e aprendizagem da escrita, desde a identificação de elementos até a construção de um texto, com introdução, desenvolvimento, conclusão e uma mensagem para a reflexão. A família tem esse poder de dar as ferramentas do sucesso. Sem mencionar que esses momentos em que pais e filhos leem juntos são de cumplicidade, de partilha, de troca, de despertar o espírito de curiosidade na criança.
Que políticas públicas diferenciadas deveriam ser criadas para escolas em ambientes vulneráveis, nos quais muitas crianças não têm acesso a esse capital cultural?
LAHIRE Mais investimento em estrutura: bons professores, bons equipamentos, boa equipe pedagógica. Assim, será possível oferecer aos estudantes, na escola, auxílios que alguns podem não ter fora dela. Por exemplo, dar oportunidades a crianças pobres de fazer uma viagem escolar, dar-lhes acesso a livros, oficinas e cursos de arte e música. A escola é a estrutura estável de quem vive numa família instável. Ela precisa trabalhar junto com os pais para facilitar a harmonização entre esses dois ambientes.
Fonte: Nova Escola
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