terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Recusar aluno autista é crime

É um pouco cruel dizer isso, mas o Brasil não é o melhor lugar do mundo para um autista nascer. Hoje enfrentamos um problema que chega a ser absurdo: a recusa de vagas para crianças autistas em algumas escolas de ensino regular.
A recusa de um aluno com deficiência em uma escola regular é passível de condenação. O Estado assegura o direito de qualquer criança frequentar o ensino regular. Dessa forma, caso haja qualquer tipo de infração com relação à aceitação, os envolvidos podem entrar em contato com a Secretaria de Educação e, caso não haja uma justificativa consistente para tal ato, deve haver um processo judicial.
Nesse sentido, prevê o artigo 8º da lei nº 7.853/1989: Art. 8º – Constitui crime punível com reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa: I – recusar, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar, sem justa causa, a inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, por motivos derivados da deficiência que porta.
Embora a recusa de vagas às crianças autistas possa ser punida tanto civilmente (dano moral) quanto penalmente, a efetividade de tal direito esbarra muitas vezes na dificuldade de comprovar a recusa. Ocorre que, muitas vezes, as escolas procuram fazer uma exclusão velada da criança autista e, ao invés de revelarem abertamente que não a querem receber, acusam não haver vaga disponível. Nesses casos, fica muito mais difícil configurar a prova de que o aluno não foi aceito por ser autista. Como comprovar que havia vaga quando você procurou a escola e esta ainda não sabia que seu filho era autista?
É por isso que recomendo pleitear a vaga sem informar ao colégio sobre a patologia da criança. Apenas após a vaga estar disponível, procurar a escola para conversar sobre as condições especiais da criança. Ainda é muito importante sempre documentar os contatos realizados com o colégio.
Agora falemos de outro detalhe! Recorrendo ao judiciário, pode-se conseguir que seja efetivada, por ordem judicial, a realização de matrícula da criança em rede de ensino que se recusou a fazê-lo em virtude de a criança ser autista. Porém, nesse ponto me questiono: Será que conseguiria ficar tranquila com minha filha matriculada em uma escola que sequer quer recebê-la? É uma questão de enfrentamento difícil no âmbito pessoal. Porém eu, como mãe, apenas entraria pedindo dano moral na esfera cível, sem pleitear ordem judicial que obrigue a escola a efetivar a matrícula (mas essa é apenas o que eu, mãe, faria). Isso além, é claro, de denunciar penalmente a criminosa instituição que negou a matrícula.
É importante que informemos mais e mais pessoas sobre os direitos de nossas crianças autistas. Apenas com informação conseguiremos coibir ações ilícitas praticadas por tantas escolas. Conto com você para difundir essa informação! Ou melhor, os autistas contam com você para difundir essa informação!
Fonte: Gazeta do Povo| Escrito por Hanna Baptista

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Por que a criança se dispersa tanto?


A resposta você confere neste post, que traz reflexões interessantes sobre a importância de os educadores conhecerem os achados científicos sobre a relação do cérebro infantil com a aprendizagem.

revista Neuroeducação publicou uma entrevista com a especialista Leonor Bezerra Guerra, coordenadora do Projeto NeuroEduca, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que tem como objetivo divulgar conhecimentos em neurociência para profissionais da área da educação.
O que ela traz são conclusões de estudos científicos sobre os ritmos de aprendizagem e como eles também se relacionam com a maturidade do cérebro. “Crianças e adolescentes não sustentam a atenção da mesma forma que um adulto. E há uma base neurobiológica para isso. Até o início da vida adulta, o córtex pré-frontal, a parte mais anterior do cérebro, responsável por inibir alguns comportamentos, ainda não está completamente formado. Assim, é mais difícil manter-se concentrado em assuntos que, ao menos naquele momento, não parecem tão relevantes”, afirma.
Ter tais conhecimentos sobre esses aspectos, assim como saber qual a influência dos estímulos externos na arquitetura do cérebro, é algo essencial ao educador que, na sala de aula, interage com seus alunos na expectativa de que retenham novos conteúdos.
“Hoje vários cursos (de pedagogia) já têm em sua matriz curricular disciplinas que relacionam cérebro e aprendizagem, mas o tema ainda não é frequente na formação inicial do educador. O ideal seria todo estudante de pedagogia e licenciatura ter como conteúdos obrigatórios, fundamentos neurobiológicos da aprendizagem e bases da psicologia cognitiva e comportamental. É importante reconhecer que o processo de aprendizagem é biológico, mas que depende fundamentalmente da interação com o ambiente. Esse dado valoriza o aspecto social da aprendizagem: o sistema nervoso se remodela a partir da interação do indivíduo com o meio”, explica.
A neurociência é uma aliada importante da aprendizagem, mas é preciso fazer a ponte entre o educador, que está na sala de aula, e o neurocientista, que atua no laboratório. Nesse sentido, é importante buscar novos conhecimentos para a prática cotidiana. Uma publicação que traz boas reflexões é “O impacto do desenvolvimento na Primeira Infância sobre a aprendizagem”, um estudo interessante que mostra o potencial do cérebro nos primeiros anos de vida, a influência do ambiente externo para moldá-lo e como tudo isso pode impactar o aprendizado da criança.
A publicação foi desenvolvida por especialistas do Núcleo Ciência pela Infância (NCPI) em uma linguagem acessível e didática para educadores e pessoas interessadas no tema.
Basta clicar aqui para fazer o download gratuito e ampliar seus conhecimentos sobre a neurociência, transformando-os em atividades práticas para o seu dia a dia de educador.

domingo, 18 de dezembro de 2016

EDUCAR NOS NOVOS TEMPOS REQUER CORAGEM, HUMILDADE E PACIÊNCIA, DEFENDE FILÓSOFO MARIO SERGIO CORTELLA


Em uma hora e meia de palestra, poucos se levantavam ou demonstravam distração. Apenas com o microfone e sem apresentação de slides, o filósofo e educador Mario Sergio Cortella convidou mais de mil educadores a despertarem o interesse em sala de aula com temas que movem o universo dos alunos. A palestra encerrou a 10ª edição do Congresso Nacional de Educadores, promovido pelo Sistema Ari de Sá (SAS), no hotel Marina Park.

Com o tema “A educação e a emergência de múltiplos paradigmas: novos tempos, novas atitudes”, Cortella ressaltou características desejáveis no educador: coragem, humildade e paciência. Segundo ele, ferramentas necessárias para lidar com um novo tempo na escola, que recebe pessoas com deficiência, jovens inseridos em novas configurações de família e de pais com dificuldade em estabelecer regras e disciplina em casa.
Com duas edições por ano, nos meses de janeiro e setembro, o evento teve como tema geral “Pessoas com excelência constróem escolas de excelência”. O encontrou reuniu professores e gestores de escolas de diversos estados do Brasil, com quatro palestras nos turnos da manhã e da tarde. O público estimado pela organização foi de 1,1 mil participantes.
“Nós queremos nos tornar educadores melhores e discutir o cotidiano das escolas. Antes de mais nada, nós queremos formar seres humanos críticos, questionadores, livres e pensadores”, afirmou Raison Pinheiro, diretor de Consultoria Educacional do SAS. O relacionamento interpessoal e o estímulo ao pensamento e à participação na escola foram abordados em palestra de Marcos Moriggi, gerente de Consultoria Pedagógica do SAS.
Encerrando o evento, Mario Sergio Cortella deu exemplos de situações práticas para uma educação de excelência. Segundo o filósofo, o uso das tecnologias é bem-vindo quando houver intenção pedagógica. Independente da forma, ele defende que o papel do educador é transmitir o conhecimento dentro da realidade experimentada pelo aluno. No entanto, ele argumenta que nada disso é possível sem um bom planejamento e sem a busca constante dos professores por renovação.
Em entrevista ao O POVO Online, Mario Sergio Cortella fez uma síntese da mensagem principal deixada aos participantes.
O POVO Online - O que significa educar com excelência?
Excelência é tudo aquilo que ultrapassa, é tudo aquilo que vai além. A própria palavra excelente significa aquilo que vai além. Portanto, a educação excelente é aquela que faz mais do que a obrigação. Isto é, aquela que tem obrigação como ponto de partida, não como um ponto de chegada. Uma educação excelente é aquela que oferece sólida base científica, formação de cidadania, concepção de solidariedade social... Mas que faz isso de uma maneira que encante, que eleve, que faça com que haja alegria e prazer naquilo, de maneira que se queira mais. Portanto, a excelência é aquela que não tem um ponto de interrupção. Excelência é um horizonte, não é um lugar onde você chega.
O POVO Online - Quando pensamos em novos tempos e novas gerações de alunos, que novas atitudes o educador deve perseguir?
A gente tem de ter três grandes atitudes. A primeira delas é coragem. Entender que coragem não é ausência de medo, mas é capacidade de enfrentar o medo. E nós temos de ter coragem pra entender que hoje há um movimento novo, e nós temos de lidar com ele. Temos uma sociedade que muda com muita velocidade. Por isso, os alunos novos apresentam para nós não um encargo, mas um patrimônio. Portanto, eles são uma fonte de aprendizagem. É preciso ter coragem para lidar com essa questão.
Segundo: humildade. Saber que eu não sei todas as coisas. E se eu estou na educação, eu preciso entender que só é um bom ensinante quem for um bom aprendente. Em terceiro lugar: paciência. A gente não constrói as coisas de maneira apressada, de maneira açodada. Ao contrário, há um tempo de maturação em que as coisas acontecem. Por isso, coragem, humildade e paciência. Essas atitudes nos permitem entrar na estrada. Não significa que, com elas, a gente já chega ao final. Mas é assim que a gente começa.
FONTE: opovo.com.br

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

BAIXE EM PDF E WORD - APOSTILA JOGOS DO PNAIC

Olá psicos
Trago para vocês uma Apostila de Jogos do PNAIC organizada pela orientadora de estudos Eleúzia Lins, utilizada durante as Formações dos Professores Alfabetizadores.
Baixe em apenas um clique em WORD ou PDF a apostila completa. Se preferir pode imprimir direto do site.
Os jogos da apostila de jogos do PNAIC são Jogos de Alfabetização Matemática.

Jogos presentes na apostila:
  • CIRCUITO MATEMÁTICO
  • JOGO 1 – AS DUAS MÃOS
  • JOGO 2 – JOGO DAS FICHAS COLORIDAS
  • JOGO 3 – GANHA CEM PRIMEIRO
  • JOGO 4 – GASTA CEM PRIMEIRO
  • JOGO 5 – ESQUERDINHA – QUEM PRIMEIRO TIVER CEM
  • JOGO 6 – PLACAR ZERO
  • JOGO 7 – AGRUPAMENTO PARA MUDAR DE NÍVEL (segundo a cor)
  • JOGO 8 – CUBRA A DIFERÇA
  • JOGO 9 – CUBRA O ANTERIOR
  • JOGO 10 – QUAL A REPRESENTAÇÃO DO NÚMERO?
  • JOGO 11 – COMPRANDO FICHA
Baixe a apostila nos links:
  • Baixe em PDF
Visualizar   |  Download
  • Baixe em WORD
Visualizar   |  Download

Fonte: Só Escola

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Amar não é aceitar tudo, é ser capaz de dizer ‘Não’ ao que tem que ser recusado


Uma das coisas que mais fiz como educador de meus filhos foi tirar o encanto da droga ilegal, para impedir ou dificultar que tivessem acesso a esse tipo de prazer – porque é óbvio que é prazeroso, senão ninguém iria atrás dele. Não é bom fazer uso dessas substâncias, não é encantador. Uma pessoa que usa droga é fraca, pois não detém força suficiente para se defender daquilo. Eu não sou forte quando me comporto como a manada.
Sou forte quando consigo ter uma conduta consciente, em que faço o que faço porque decido o que fazer. Não porque as outras pessoas também o estão fazendo. Esse comportamento mimético(que imita), simiesco (parecido com macacos), em relação a algumas práticas é sinal de fraqueza e de pusilanimidade (fraqueza de ânimo).
Aceita-se hoje, com a maior facilidade, o que chamo de ética da conveniência. “Bom é tudo aquilo que me favorece. O que não me favorece considero ruim”. Em vez de termos valores de conveniência que sejam sólidos, menos superficiais, portanto, menos cínicos, há uma hipocrisia que leva a esquecer que ética não é cosmética. Não é efeito de fachada.
Nessa hora, costumo lembrar um alerta valioso feito pelo Corpo de Bombeiros: nenhum incêndio começa grande, e sim com uma faísca, uma fagulha, um disparo. Isso se aplica ao campo da ética. O apodrecimento dos valores éticos positivos se inicia também com pequenos delitos, infrações, aceitações, conivências.
A expressão ‘o amor aceita tudo’ é absolutamente antiética e antipedagógica. A pessoa que seja capaz de amar é aquela que recusa aquilo que faz mal, por isso um pai e uma mãe não pode jamais dizer ao filho ‘é porque eu te amo, então tudo aceito’. É exatamente o inverso: porque eu te amo é que eu não quero que você use drogas ilegais; é porque eu te amo que eu quero que você seja decente; é porque te amo que eu não quero que você banalize a sua sexualidade livre e bonita; é porque eu te amo que eu quero que você tenha esforço na sua produção e é porque você me ama que eu quero que você, meu filho, minha filha, me adverte, também me apoia, também me corrija naquilo que eu estiver equivocado. Essa relação de cuidado mútuo, só nos faz crescer. Por isso esse exemplo do cotidiano tem que aparecer como sendo a recusa com qualquer situação. A ética do amor não é a ética da conveniência em que as coisas valem a partir de qualquer momento, mas uma ética que é capaz, também de dizer ’não’ ao que tem que ser recusado.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

POR QUE É IMPORTANTE ESCREVER À MÃO

A cada dia nas escolas vemos menos as crianças escrevendo à mão. parece que isso de repente ficou fora de moda. São xerox e mais xerox de atividades, apostilas, e em escolas mais avançadas, teclados e tablets. Vemos alunos de 6º ano com uma caligrafia ilegível ou de alunos de 3º ano e não entendemos o que faltou na alfabetização da criança. Uma pesquisa americana pode explicar isso: faltou escrever à mão!





FALTA DE ESCREVER À MÃO PODE PREJUDICAR DESENVOLVIMENTO CEREBRAL DAS CRIANÇAS

Uma pesquisa americana sugere que o uso excessivo de teclados e telas sensíveis ao toque em vez de escrever à mão, com lápis e papel, pode prejudicar o desenvolvimento de crianças.
A neurocientista cognitiva Karin James, da Universidade de Bloomington, nos Estados Unidos, estudou a importância da escrita à mão para o desenvolvimento do cérebro infantil.
Ela estudou crianças que, apesar de ainda não alfabetizadas, eram capazes de identificar letras, mas não sabiam como juntá-las para formar palavras.
No estudo, as crianças foram separadas em grupos diferentes: um foi treinado para copiar letras à mão enquanto o outro usou computadores.
A pesquisa testou a capacidade destas crianças de aprender as letras; mas os cientistas também usaram exames de ressonância magnética para analisar quais áreas do cérebro eram ativadas e, assim, tentar entender como o cérebro muda enquanto as crianças se familiarizavam com as letras do alfabeto.
O cérebro das crianças foi analisado antes e depois do treinamento e os cientistas compararam os dois grupos diferentes, medindo o consumo de oxigênio no cérebro para mensurar sua atividade.

POR QUE É IMPORTANTE ESCREVER À MÃO

Os pesquisadores descobriram que o cérebro responde de forma diferente quando aprende através da cópia de letras à mão de quando aprende as letras digitando-as em um teclado.
As crianças que trabalharam copiando as letras à mão mostraram padrões de ativação do cérebro parecidos com os de pessoas alfabetizadas, que conseguem ler e escrever.
Este não foi o caso com as crianças que usaram o teclado.
O cérebro parece ficar “ligado” e responde de forma diferente às letras quando as crianças aprendem a escrevê-las à mão, estabelecendo uma ligação entre o processo de aprender a escrever e o de aprender a ler.
“Os dados do exame do cérebro sugerem que escrever prepara um sistema que facilita a leitura quando as crianças começam a passar por este processo”, disse James.
Além disso, desenvolver as habilidades motoras mais sofisticadas necessárias para escrever à mão pode ser benéfico em muitas outras áreas do desenvolvimento cognitivo, acrescentou a pesquisadora.
As descobertas da pesquisa podem ser importantes para formular políticas educacionais.
“Em partes do mundo, há uma certa pressa em introduzir computadores nas escolas cada vez mais cedo, isto (esta pesquisa) pode atenuar (esta tendência)”, disse Karin James.
Muitas escolas americanas já transformaram o ensino da escrita à mão em alternativa opcional para professores. Por isso, muitos educadores não ensinam mais caligrafia.
Uma solução poderia seria usar algum programa em um tablet que simulasse o ato de escrever à mão.
Mas, pelo que a pesquisa da cientista sugere, nada parece substituir o aprendizado com a escrita à mão.
Fonte: Só Escola
E o que vocês acham?

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Aproveite a confira as nossas impressões sobre o filme "Como Estrelas na Terra"


sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

A IMPORTÂNCIA DA PARCERIA FAMÍLIA E ESCOLA


Por Elen Campos Caiado - Brasil Escola
A família e a escola formam uma equipe. É fundamental que ambas sigam os mesmos princípios e critérios, bem como a mesma direção em relação aos objetivos que desejam atingir.
Ressalta-se que mesmo tendo objetivos em comum, cada uma deve fazer sua parte para que atinja o caminho do sucesso, que visa conduzir crianças e jovens a um futuro melhor.
O ideal é que família e escola tracem as mesmas metas de forma simultânea, propiciando ao aluno uma segurança na aprendizagem de forma que venha criar cidadãos críticos capazes de enfrentar a complexidade de situações que surgem na sociedade.
Existem diversas contribuições que tanto a família quanto a escola podem oferecer, propiciando o desenvolvimento pleno respectivamente dos seus filhos e dos seus alunos. Alguns critérios devem ser considerados como prioridade para ambas as partes. Como sugestões seguem abaixo alguns deles:

Família

• Selecionar a escola baseado em critérios que lhe garanta a confiança da forma como a escola procede diante de situações importantes;
• Dialogar com o filho o conteúdo que está vivenciando na escola;
• Cumprir as regras estabelecidas pela escola de forma consciente e espontânea;
• Deixar o filho a resolver por si só determinados problemas que venham a surgir no ambiente escolar, em especial na questão de socialização;
• Valorizar o contato com a escola, principalmente nas reuniões e entrega de resultados, podendo se informar das dificuldades apresentadas pelo seu filho, bem como seu desempenho.

Escola 


• Cumprir a proposta pedagógica apresentada para os pais, sendo coerente nos procedimentos e atitudes do dia-a-dia;
• Propiciar ao aluno liberdade para manifestar-se na comunidade escolar, de forma que seja considerado como elemento principal do processo educativo;
• Receber os pais com prazer, marcando reuniões periódicas, esclarecendo o desempenho do aluno e principalmente exercendo o papel de orientadora mediante as possíveis situações que possam vir a necessitar de ajuda;
• Abrir as portas da escola para os pais, fazendo com que eles se sintam à vontade para participar de atividades culturais, esportivas, entre outras que a escola oferecer, aproximando o contato entre família-escola;
• É de extrema importância que a escola mantenha professores e recursos atualizados, propiciando uma boa administração de forma que ofereça um ensino de qualidade para seus alunos.

A parceria da família com a escola sempre será fundamental para o sucesso da educação de todo indivíduo. Portanto, pais e educadores necessitam ser grandes e fiéis companheiros nessa nobre caminhada da formação educacional do ser humano.

Aposentadoria de professores pode mudar com Reforma da Previdência

A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 287, que prevê a Reforma da Previdência, coordenada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, foi enviada para o Congresso Nacional. Ao contrário do que se especulava, ela prevê a extinção das aposentadorias especiais. A idade para educadores e educadoras se aposentarem pode, então, ser igualada em 65 anos, assim como a dos outros trabalhadores (com exceção dos militares). Professores que até a data de promulgação da emenda tenham 50 anos ou mais e professoras com 45 anos ou mais poderão se aposentar após cumpridos 30 anos de contribuição, se homem, e 25 anos no caso das mulheres (desde que tenha cumprido um período adicional equivalente a metade do tempo que faltaria para atingir o tempo de contribuição anterior).
O intuito do governo federal é que mudanças nas regras de aposentadoria ajudem a diminuir os gastos públicos. No orçamento previsto para 2017, 562,4 bilhões de reais deverão ser usados em despesas correspondentes a gastos com pagamentos desse benefício trabalhista, bem como pensões e auxílios de trabalhadores e empregadores. O déficit esperado para o Regime Geral da Previdência (conhecido através do INSS) é de cerca de 181,2 bilhões de reais, segundo o Projeto de Lei Orçamentária Anual, divulgado pelo Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão.
Atualmente, trabalhadores do setor público e privado podem se aposentar com, no mínimo, 65 anos para homens e 60 para mulheres, ou por tempo de contribuição, 35 anos para homens e 30 para mulheres se esse valor, somado à idade da pessoa, corresponder a 85 e 95, respectivamente. Caso a proposta seja aprovada, só será possível parar de trabalhar após atingir a idade mínima de 65 anos. Além disso, o tempo mínimo de contribuição para a Previdência Social passará de 15 para 25 anos.
Até o momento, professores de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, policiais federais e civis dos Estados e cargos que se expõem a agentes nocivos à saúde têm direito à chamada aposentadoria especial. Essa separação decorre do fato de tais profissionais estarem expostos a trabalhos mais desgastantes ou arriscados. No caso dos docentes, a idade mínima é de 55 anos para homens e de 50 para mulheres. Já o tempo de contribuição mínimo para homens e mulheres é de 30 e 25 anos, respectivamente. Essa regra é válida para quem contribui pelo regime geral da Previdência, o que é o caso da maioria dos educadores da rede particular e pública.
A proposta da Reforma da Previdência inicia a tramitação pela Câmara dos Deputados. Agora, o Congresso deverá ouvir alguns setores da sociedade civil, como centrais sindicais, para que sejam analisadas mudanças no texto.   

Por que os docentes são um caso especial

Marta Vanelli, secretária geral da Confederação dos Trabalhadores em Educação (CNTE), órgão vinculado à Central Única dos Trabalhadores (CUT), opõe-se às mudanças apresentadas. “Os professores têm uma luta histórica para conseguir ter 50% de sua carga horária para horas-atividade. Já conquistamos um terço, o que é um grande avanço. Entretanto, continuamos com salas superlotadas. É difícil e desgastante ficar responsável por até cinco turmas com 40 ou 50 alunos cada. Em uma manhã, o docente pode ter contato com até 250 crianças e adolescentes. Sem considerar uma segunda jornada”, diz Marta. Além disso, os professores precisam desenvolver algumas de suas tarefas fora do período de trabalho, como o planejamento de aulas e a correção de avaliações. “Por esses motivos, nas atuais condições, nenhum docente consegue ficar mais do que 25 anos em sala de aula. O governo compara a idade de aposentadoria daqui com as de outros países, mas as realidades são diferentes”.
Aumentar o tempo de trabalho dos professores pode acarretar ainda problemas na saúde deles. O Atlas de Gestão de Pessoas registrou que, no ano de 2012, na rede municipal de São Paulo, a quantidade de afastamentos superou o número de docentes em sala. “O governo pensa no lado financeiro da questão, mas parece desconsiderar ou ser insensível com as especificidades de cada profissão. O exercício de magistério acarreta desgaste físico e mental. Por isso, as mudanças podem ampliar o número de educadores doentes. Teoricamente, essas pessoas estão trabalhando, mas, na prática, estão readaptadas e fora da sala de aula”, diz Claudio Fonseca, presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem).
Sobre igualar as idades de aposentadoria de homens e mulheres educadores, Marta também levanta argumentos contrários. “Na cultura machista em que vivemos, além de trabalhar fora de casa, em muitos casos a mulher é também a única responsável pela Educação e cuidado com os filhos e com a casa. Em algumas poucas famílias, esses cuidados são divididos, mas ainda são casos excepcionais. Se houvesse uma partilha justa de atividades domésticas entre homens e mulheres, poderíamos pensar em igualar as idades”, defende.

O tamanho do problema

Estima-se que, em 2017, o déficit da previdência chegue a 181,2 bilhões de reais. Caso a tendência seja mantida, essa conta pode fechar em 1 trilhão negativo em 2050. Com o envelhecimento da população, estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) preveem que, em 2060, 30% da população brasileira seja composta por pessoas com mais de 65 anos. Nesse cenário, 20% do PIB seria gasto com a previdência, segundo uma estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em 2015, foram gastos 7,4%, com 8% da população com mais de 65 anos. Ou seja, haverá menos pessoas contribuindo para um sistema com um número muito maior de aposentados do que o atual. Dessa maneira, os custos dificultariam investimentos em outras áreas, como Saúde e Educação.
Outro argumento levantado pelo governo é que a média de idade de aposentadoria brasileira, 59,4 anos para homens (dados de 2015), está abaixo da média dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que foi de 64,2 anos em 2012.
Para Carlos Heitor Campani, professor de finanças do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o envelhecimento da população e o aumento da expectativa de vida já eram problemas previsíveis. “Os responsáveis pelo sistema foram extremamente negligentes ao longo do tempo e não agiram de forma eficiente para impedir o desastre atual”, diz. O economista defende que, em vez de se basear em outros países, o governo federal realize uma pesquisa robusta para que as mudanças se adequem ao padrão brasileiro. Para ele, o atual modelo e as novas propostas divulgadas até agora funcionarão apenas como medidas paliativas. “É claro que ações corretivas tais como idade mínima e extinção de super-aposentadorias são importantes, mas elas precisam ser acompanhadas de outras medidas que tornem o sistema verdadeiramente sustentável e não apenas empurrem a sujeira para debaixo do tapete, ou melhor, para algum governo futuro”, pondera.

Fonte: Nova Escola

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Para subir em ranking, Brasil deve priorizar o professor, dizem especialistas

Entidades da área de educação afirmam que resultados do Pisa 2015 são 'inaceitáveis' e colocam Brasil 'na rabeira da educação mundial'. Dados foram divulgados nesta terça.

A posição ocupada pelo ensino brasileiro no cenário mundial, divulgada nesta terça-feira (6) pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), mostram que o Brasil não tem nada a comemorar, segundo especialistas ouvidos pelo G1. Mozart Neves Ramos, do Instituto Ayrton Senna, Denis Mizne, da Fundação Lemann, e Ricardo Falzetta, do Movimento Todos pela Educação, afirmam que o baixo desempenho dos estudantes de 15 anos que participaram das provas em 2015 já era esperado, e que os gestores da área precisam ter foco para conseguir uma evolução concreta.

Entre as medidas mencionadas por eles para melhorar o desempenho dos estudantes, o professor deve receber prioridade, tanto na formação inicial quanto nos cursos de reciclagem e, principalmente, na valorização da carreira docente.

Os dados mostram uma queda de pontuação nas três áreas avaliadas: ciências, leitura e matemática. A queda de pontuação também refletiu uma queda do Brasil no ranking mundial: o país ficou na 63ª posição em ciências, na 59ª em leitura e na 66ª colocação em matemática.

A prova é coordenada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) foi aplicada no ano de 2015 em 70 países e economias, entre 35 membros da OCDE e 35 parceiros, incluindo o Brasil. Ela acontece a cada três anos e oferece um perfil básico de conhecimentos e habilidades dos estudantes, reúne informações sobre variáveis demográficas e sociais de cada país e oferece indicadores de monitoramento dos sistemas de ensino ao longo dos anos.

Fonte: G1

"A nova geração é mal educada", diz Mario Sergio Cortella sobre jovens que chegam ao mundo do trabalho

Para o filósofo, a nova geração é altamente bem-formada, mas esbarra na incapacidade de reconhecer hierarquias e trabalhar com prazos e metas.



Não muito tempo atrás, sair de casa todos os dias para enfrentar longas horas de trabalho era uma tarefa motivada essencialmente, quando não exclusivamente, pelo dinheiro que cairia na conta no fim do mês. A vida parecia ser menos complexa — e ter um emprego era sinônimo de garantir recursos para sustentar uma família e construir um patrimônio que pudesse ser deixado de herança.
Pode ser que, à mente de muitos, ainda seja esse o pensamento que vem quando chega a segunda-feira e mais uma semana se inicia. Para o filósofo e escritor Mario Sergio Cortella, no entanto, essa visão sobre o trabalho faz cada vez menos sentido. No livro Por que fazemos o que fazemos?, lançado em julho, o especialista em educação afirma que os profissionais que hoje ocupam postos em diversas áreas estão mais do que nunca questionando os seus propósitos: eles querem reconhecer o esforço diário como útil e, mais, ser valorizados por ele. 
O que está em jogo é a realização, sobretudo para os jovens que chegam agora ao mercado de trabalho — aos quais Cortella deixa uma alfinetada:
— A nova geração é mal educada. Está acostumada a ser quem subordina os adultos em casa.
Confira a entrevista
O senhor fala que a gestão do conhecimento é um desafio urgente. Por quê?Muita gente diz que estamos vivendo a era do conhecimento, quando na verdade estamos vivendo a era da informação veloz. O conhecimento sempre existiu. Se não fosse assim, não estaríamos vivos. O ser humano é um ser que conhece, não nasce pronto. Quando falamos sobre a questão da gestão do conhecimento, hoje, estamos diante de um desafio urgente para que a gente não caia em uma armadilha. Primeiro, não se pode confundir informação com conhecimento. Informação é cumulativo, conhecimento é seletivo. O conhecimento vem quando damos à informação uma objetividade relacionada ao interesse, que é de cada um. Só que temos uma encrenca. Nossos alunos são do século 21, nossos professores são do século 20, e uma parte da metodologia é do século 19. Temos, portanto, uma colisão intersecular que precisa ser ultrapassada, na medida em que nos preparamos melhor, utilizando o mundo que está à nossa volta, mas sem nos subordinar a ele. Então, o conhecimento sempre esteve na história humana. A diferença agora é que a gente tem uma fartura de informação para fazer com que ele possa vir à tona como ele deve vir.
Como aproveitar essa onda de informação, surfar neste "tsunami" de maneira benéfica?
A gente tem uma fartura de informações, mas de nada adianta se você não tiver clareza do que quer fazer com ela. É como alguém que entra em um restaurante de self-service e fica perdido diante de todas aquelas opções de pratos quentes e frios. Comer bem, no entanto, não é comer muito, mas de forma selecionada. Ou seja, o acesso imenso à informação é necessário, mas, na ausência de critérios, ele fica limitado. Por exemplo, por que ainda temos a presença _ e ainda bem _ do jornal impresso entre nós? Bastaria que tivéssemos outras mídias, não? Só que o jornal impresso, por ser impresso, permite que você reflita, medite, volte e leia novamente. Pode-se degustar a informação sem que ela seja engolida sem mastigação. A tarefa de alguém que lida com a educação, hoje, seja na escola ou na imprensa, é de ter uma atividade muito mais de curadoria. Isto é, muito mais de organizar a informação e colocá-la à disposição do que de instrução.
O seu novo livro trata das aflições comuns em relação ao trabalho, à carreira e às expectativas que temos para a vida. Quais são essas aflições?
A primeira delas, que acaba englobando quase todas as outras, tem a ver com o fato de as pessoas viverem com pressa em relação às nossas próprias coisas. Elas perderam um pouco da referência em relação ao sentido daquilo que fazem. É preciso ter uma vida que não seja automática, robótica, que não seja banal. É preciso que a gente, vez ou outra, não entre em angústia ao se perguntar "por que estou fazendo isso?" ou "onde estou com a cabeça?" ou sentenciar "se eu pudesse, eu largava tudo". Essas expressões são sintomas de uma doença, que não é a depressão, enquanto patologia, mas uma certa desorientação em relação ao sentido daquilo que se faz. Esta aflição é fortíssima. As pessoas dizem muito hoje: "Um dia vou ser feliz". Como se isso se situasse no futuro e não fosse uma condição que pudesse ser vivenciada no tempo presente, em meio às turbulências que nós temos. Esta é uma aflição grande. A outra (aflição) é a ausência de reconhecimento que existe em muitos locais de trabalho. Como cada vez mais trabalhamos em grandes grupos, coletivamente, a autoria, a capacidade da "mão do artista", fica muito diluída. A minha marca como jornalista, como gestor, como funcionário desaparece, se dilui. As pessoas vêm sentido um pouco, e com toda a razão, desprestigiadas.

Se hoje buscamos mais o reconhecimento e questionamos mais nossas posições e o que fazemos, não é porque temos mais opções? Porque podemos escolher o que fazer e corrigir escolhas erradas?O nosso país ganhou muita condição econômica nos últimos 50 anos. Nós nos tornamos um país muito mais rico. Éramos a 35ª nação do planeta em termos de economia no início dos anos 1960, e agora somos a sétima. Isso significa que a economia dá uma condição melhor do que a que existia antes. Isso tem influência direta na formação das crianças. Mas tem um outro lado. Os pais, em nome da capacidade de proteção, acabam desprotegendo e enfraquecendo seus filhos. É curioso quando os pais falam "poxa, eu não quero que meu filho passe pelo que eu passei". Eu fico imaginando: o que esse pai e essa mãe passaram? Tiveram de fazer comida? Limpar a casa? Cortar lenha, como foi o meu caso? Qual é o nível de sofrimento dessas tarefas? Ao meu ver, pelo contrário, elas faziam parte da partilha de tarefas de casa. Hoje não mais. Durante muito tempo, a geração adulta cuidava de si mesma e dos filhos. Quando os filhos cresciam, os pais diziam: "Bom, agora você vai e cuida da sua vida". A atual geração de adultos cuida de si mesma. Se tiver filhos, cuida dos filhos. Às vezes, cuida também dos pais, com plano de saúde, atendimento. E, eventualmente, no caso de alguns, até dos netos. A atual geração que tem entre 35 e 40 anos cuida de três gerações. Ela está estafada, cansada, vive em estado de sonolência e deseja, de maneira repetida, libertar-se disso. Só há uma maneira de fazer isso: a procura contínua pela partilha das tarefas. Neste sentido, a educação escolar é uma parte que ajuda nesta questão. Mas ela depende também do coletivo, não apenas da escola. As novas gerações não podem crescer como adultos em férias, que vão ao cinema, passeiam, comem fora... Só não trabalham. Essa condição é malévola. Pode ser até gostoso poder oferecer isso aos filhos, em determinado momento, mas produz um enfraquecimento da capacidade do esforço mais adiante. Portanto, não é fazer os filhos sofrer, mas viver de uma maneira mais partilhada o desgaste e o esforço.

Recentemente, em uma entrevista, o senhor disse que os jovens estão chegando ao mercado de trabalho altamente competentes, porém mal educados. Qual é o perfil desta nova geração que ingressa agora no mundo do trabalho?A nova geração não tem problema de formação. Ela é ligada à conectividade. Tem um nível de escolaridade que, mesmo que fragilizado, ainda consegue ser ultrapassado. Mas ela chega mal educada no mundo do trabalho, sem percepção de hierarquia. Ela está acostumada a ser quem subordina os adultos em casa, tanto que há pais e mães que vivem em função dos filhos. Ao mesmo tempo, esta geração não tem necessariamente compromisso com meta e prazo. Abandona coisas com muita facilidade. É muito comum ouvir falar hoje de jovem que começa uma faculdade e passa para outra. Ele descobre que não é o que quer, aí vai estudar mecânica, depois vai para a metalurgia, e passa para a alta gastronomia. Isso não é excesso de opção, isso é confusão mental. É ausência de clareza de onde se quer chegar. E esta mesma geração é absolutamente rica e exuberante naquilo que consegue, que é a criatividade. Se você observar as startups, são inéditas. Mas de quem são? Daqueles que vão fazer um esforço. As coisas não são automáticas, elas não acontecem sozinhas. Há um esforço imenso a ser feito para que as coisas tenham concretização. E a gente observa que o jovem muitas vezes chega até uma nova empresa e supõe que a chefia dele é como um pai e uma mãe, que têm que resolver as coisas para ele. Há pais e mães que saem pelo caminho colocando almofadas para que, a cada tropeço, o filho caia em um lugar macio. Há uma diferença entre proteção e desqualificação. Por isso há uma expressão que precisa ser lembrada: o amor verdadeiro é aquele que não aceita tudo. A frase "o amor aceita tudo" é absolutamente acovardada. Não podemos deixar de modo algum que esta nova geração acredite em uma coisa, que é muito perigosa para a vida coletiva: confundir desejos com direitos. 
Os jovens podem estar chegando "mal educados" no mercado de trabalho. Mas até que ponto o mercado de trabalho não tem uma dinâmica obsoleta, ultrapassada para as relações atuais?Sim, claro. Imagine que a tecnologia nos últimos 20 anos se alterou com uma velocidade imensa, e o mundo do trabalho acompanhou no campo da mecânica, mas não acompanhou no campo dos processos formativos. Afinal de contas, os primeiros mobile, que a gente usa no nosso dia a dia, não têm 10 anos. Uma coisa ultrapassada é o pen drive, que tem 15 anos. A internet está fazendo 20 anos. É algo de agora. Portanto, não deu tempo para o mundo do trabalho mudar muito, exceto aquelas empresas que atuam no campo do mundo digital. Se você observar, as grandes empresas desta área ligada à internet tentaram a formação diferenciada e elas agregam o jovem que terá de ser disciplinado de outro modo. Embora ele possa trabalhar descalço, ir de bicicleta, levar o cachorro para dentro da empresa, como acontece em várias delas, ele ainda tem compromisso com o grupo, ele precisa se esforçar para que aquilo aconteça. Ele precisa ser disciplinado para entender que o trabalho não é algo que ele senta na cadeira e, de maneira misteriosa, a fada do dente vem e entrega tudo pronto, como um presente.
Como você imagina o cenário futuro, quando a maior parte dos cargos de trabalho, políticos e das posições sociais importantes será ocupada pela geração dos atuais jovens?Haverá um choque de realidades muito forte. Afinal de contas, aquilo que é um grande segredo hoje, do mundo das organizações, é a convivência intergeracional. Por exemplo, um jovem tem percepção de senso de urgência, instantaneidade, mobilidade, conectividade. Mas ele não tem paciência, não tem percepção estratégica. Isso significa que ele tem algumas coisas que são vantajosas, e outras que não. A nova geração não é um encargo. Assim como a anterior, ela é um patrimônio, desde que a gente junte as forças. Por isso, haverá um momento em que esta nova geração, ao galgar alguns dos cargos, ela precisará ter sido formada para fazer algo que não seja um desastre. Afinal, pessoas com mais idade já fizeram muitos desastres, muitas empresas quebraram nos últimos 30, 40 anos. Só não podemos esquecer que a história humana é marcada também por gente muito jovem fazendo muita coisa. Dom Pedro, por exemplo, tinha 22 anos quando proclamou a independência. Jesus de Nazaré começou a encantar pessoas com 30 anos. Charles Darwin tinha 19 anos quando saiu a viajar com o Beagle e foi até a Patagônia. Existe uma presença do mundo jovem muito forte que se ausentou em grande medida no século 20, porque uma parte dos jovens do mundo ocidental morreu nas guerras. Na primeira, morreram 9 milhões de pessoas, na segunda, 55 milhões _ e boa parte delas eram jovens entregues ao mundo para morte. Não é fora de propósito que a geração pós-guerra tenha se dedicado à dança, ao rock, à música, ao fluir da vida. Fazia parte de um impulso movido pelo pós-guerra, em uma sociedade que se amargurou por ter mandado os filhos para morrer nos campos de batalha. E, a partir daí, passaram a deixá-los mais livres. Isso não vale hoje, não estamos mais vivendo em 1946.
Fonte: Vida e Estilo 

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Se Você Frustrar Um Pouco Os Filhos Eles Serão Crianças Felizes E Adultos Íntegros

O pediatra Daniel Becker é o criador da Pediatria Integral: um conceito de que a criança precisa ser vista de forma mais abrangente. Não é apenas tratar e prevenir doenças, mas cuidar do bem estar emocional, social e até espiritual da criança e da família. São 20 anos de experiência de consultório no Rio de Janeiro. Formado pela UFRJ, ele é especialista em Homeopatia e mestre em Saúde Pública. Médico do Instituto de Pediatria da UFRJ, ele foi pediatra da Médicos sem Fronteira em campos de refugiados na Ásia e fundador de uma ONG, o CEDAPS, Centro de Promoção da Saúde, com atuação em comunidades carentes. Com tantos compromissos, entre palestras e consultas, ele abriu gentilmente um espaço na agenda para responder às minhas perguntas.
1.Na sua palestra no Ted, você diz que um dos pecados contra a infância é a “entronização”. O que isso significa? Estamos colocando nossas crianças em um trono?
A gente vive em tempos de hipervalorização da infância tanto pela mídia quanto pretensamente pela família e pela sociedade. Mas na verdade a infância é desvalorizada naquilo que ela tem de real, na sua essência. Um dos fatores que explica esse paradoxo é a falta de intimidade e de convivência entre pais e filhos por causa das questões da vida moderna. E quando estão juntos, os pais não conhecem essas crianças, não sabem lidar com elas. Estão estressados com os seus trabalhos, estão viciados nos seus telefones e não querem também se submeter à desaprovação social de uma criança que chora ou se comporta mal. Acaba que essa criança não tem direito de se manifestar de forma negativa, que faz parte do comportamento infantil. Ela não pode fazer uma birra, dizer “não”, chorar, explorar seus limites de atuação no mundo. Como os pais não sabem lidar com essas situações, a criança acaba tendo todos os seus desejos realizados, não lhe colocam limites, não lhe dizem que ela tem que lidar com a frustração. A gente quer calar a qualquer custo o mal estar. Então para parar com o chilique, a gente acaba cedendo. Ao invés de aprender as regras de convivência, a criança passa a ser uma rainha que dita as normas, os programas, os horários.
2.E o pecado que você chama de “superproteção da infância”?
A superproteção é impedir que as crianças tenham suas próprias experiências. A gente está presente o tempo todo, aquilo que os americanos chamam de “helicopter parent”, pais que ficam flutuando em torno das crianças fazendo com que elas não tenham a experiência do mundo, justamente porque os pais se interpõem entre o mundo e a criança. Elas ficam impedidas de lidar com o risco, com a aventura, com as relações interpessoais, com os problemas da escola, com a dor, com os machucados. Se a criança tem um problema com uma outra criança, os pais se interpõem para resolver a questão, no playground não deixam ela se arriscar a subir mais alto no trepa-trepa. É claro que ninguém quer que o filho quebre um dedo ou receba um ponto, mas são experiências da infância. A criança tem que ter a experiência do risco, do machucadinho e da frustração. Outra coisa muito grave é que para evitar os perigos do mundo, as famílias ficam muito em casa, se expõem pouco à natureza, as praças e as praias. Os riscos desses lugares existem e temos que lidar com eles, pois fazem parte da vida.
3.Qual o prejuízo real para crianças que não sabem ouvir a palavra “não”? O que vai ser (ou já está sendo) dessa geração sem limites? 
Eu já vi criança dormindo às duas da manhã, já vi criança de dois anos que comanda o que tem na geladeira e no armário da despensa. Outras que determinam o programa da família nos fins de semana, se elas não querem sair, ninguém sai. Pais que deixam a criança de 3 anos ficar horas na televisão porque não sabem desligar o aparelho e deixar ela ficar frustrada. Criança que come o biscoito ao invés da comida, que ganha o presente depois de ter se jogado no chão do shopping. Isso tudo causa um prejuízo enorme, tanto na qualidade de vida dessa família, quanto na psiquê, na emocionalidade dessa criança. Ela precisa saber que a sua vida tem limites, que a sua influencia tem limites, que o mundo não gira em função do seu umbigo. Muitos meninos e meninas dessa geração vão levar isso para a vida adulta e não só terão dificuldades de convívio como vão quebrar a cara nos seus ambientes de trabalho e em relacionamentos interpessoais. Porque nem sempre a vida vai acolher esse tipo de onipotência que é resultado de uma educação cheia de falhas nesse sentido.
4.A culpa que os pais carregam é a grande vilã nessa história?
Eu tenho muito medo da gente restringir a questão à responsabilidade da família. A família é responsável sim, tem que saber lidar com a frustração, o choro, as emoções negativas da criança, tem que saber mostrar a ela que esses momentos passam, que estas situações vão deixar ensinamentos importantes. Os pais sentem culpa porque não estão presentes na vida dela e quando estão juntos querem dar coisas demais. A gente briga com essa história de dar presente, ao invés de dar presença. Muitas vezes o tal “deficit de atenção” é deficit de atenção de pai e mãe que a criança sofre. Mas a gente tem que justamente tomar muito cuidado para não piorar isso dizendo que os pais são os culpados porque o que leva a tudo isso é a vida moderna, é a perda de referências, é a falta de capacidade de aprender com as gerações anteriores, com a experiência dos outros, é a invasão do tempo de trabalho e do tempo de entretenimento no tempo em família, é o vício do smartphones. Tudo isso tem que ser pesado na compreensão desse fenômeno da entronização e da superproteção da infância, a gente não pode restringir a responsabilidade e nem as soluções apenas a nível familiar.
5.A justificativa sincera de muitos pais é de que eles fazem o melhor que podem, trabalham o dia todo, batalham para dar conforto aos filhos, chegam exaustos em casa. É até mesmo controverso: as pessoas querem ter filhos mas não conseguem ter tempo de conviver com eles. Como resolver este impasse? 
As pessoas querem ter filhos e imaginam que tudo vai ser um mar de rosas. Elas têm que ter consciência de que vão ter filhos neste mundo em que vivem: nas grandes cidades, muitas vezes com a falta de presença de familiares, com trabalhos que demandam excessivamente, com transporte que fazem elas chegarem tarde em casa, isso tudo tem que ser incorporado por um casal quando eles planejam filhos. Planejar ter filho é ver o futuro. Claro que a maioria das pessoas não faz isso, a gente quer ter filho, a gente quer reproduzir a nossa própria genética, isso faz parte de um mandato biológico. Mas hoje em dia a gente tem que pensar nas condições de vida que essa criança vai nascer e como nós vamos dedicar o nosso tempo a ela. Isso faz parte da responsabilidade de um casal. É preciso planejar a carreira, o local de trabalho para que a convivência familiar seja maximizada, para que a criança cresça com a presença dos pais, dos avós, tios, primos. Escolher um lugar para morar com natureza por perto. De novo a gente não pode reduzir a solução deste impasse a nível da família, a gente tem que tentar pensar na sociedade como um todo. A sociedade brasileira é insegura, desigual e cheia de problemas e isso influencia nas condições de vida das famílias.
6.O video americano “Childhood is not a mental disorder” já deu o que falar sobre o uso exagerado de remédios em crianças para controlar “doenças do comportamento”? Você concorda que é preciso ter muito cuidado com os diagnósticos?
Eu gosto muito desse vídeo e ele traz mesmo uma dimensão terrível do que a sociedade está fazendo com a infância. O mercado pressiona a família por soluções fáceis, todo mundo quer resolver os problemas imediatamente. A energia da criança está sendo reprimida. É claro que o comportamento dela vai ser muito afetado por todas as questões que eu já citei, podendo se rebelar, ter insônia, desatenção, brigar na escola, ser impulsiva. Em vez da gente repensar como oferecer a estas crianças uma infância melhor, mais saudável, mais verdadeira, o que o mercado propõe é que elas sejam medicalizadas. A indústria de diagnósticos e de remédios é monstruosa e crescente. No Brasil, a Ritalina é o principal remédio usado para criança. Em 10 anos a venda de Ritalina subiu de 75 mil caixas para 2 milhões de caixas. O Ministério da Saúde agora está estabelecendo uma regulação para a venda do remédio. A gente não pode negar que essas doenças existem, o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) é uma doença grave, mas ela atinge um pequeno número de crianças. A grande maioria desses diagnósticos está sendo feita de forma arbitrária, sem critério suficiente, eu diria até perversa. É preciso mudar o comportamento da família ou ir para psicoterapia, terapia ocupacional, fisioterapia, fonoaudiologia, que são benéficas para este tipo de problemas e poderiam ser tentadas antes e de forma mais eficaz. Porque o remédio vai ter efeitos colaterais, vai rotular esta criança, como o video expõe muito bem, vai colocar na cabecinha dela que ela é apenas um transtorno e não uma criança que tem potencialidades múltiplas e possibilidades infinitas para o seu futuro. Tem a historia de uma mãe que levou a filha ao pediatra porque achava que ela tinha problemas e o pediatra deixou a criança com uma música e saiu da sala por alguns minutos com a mãe. Eles ficaram observando a criança do lado de fora, enquanto ela dançava o tempo todo. E o pediatra disse: “Sua filha não tem um problema, sua filha é uma bailarina, leve-a para uma aula de ballet e vão ser felizes”. Gillian Barbara Pyrke, a menina da historia, se tornou uma famosa coreógrafa da Broadway. Quantos gênios, artistas, cientistas nós não estamos perdendo medicando e rotulando essas crianças?
7.Quais as suas dicas para criarmos “crianças como crianças”?
Acolher as crianças nas suas emoções. Especialmente as crianças pequenas têm uma racionalidade limitada e uma emocionalidade muito grande. Se ela está com raiva, você pode dizer pra ela “você está com muita raiva”. E mostrar de forma teatral o que está acontecendo com ela, fazê-la entender o sentimento que ela está tendo e dar permissão para ela sentir essas emoções, tanto negativas quanto positivas. Acolher também os desejos: “você quer esse brinquedo, eu sei que você quer muito ele, eu te entendo, mas a mamãe não pode comprar ele agora”. Isso quebra um pouco esse mecanismo da birra. Ter convivência com os nossos filhos, oferecer a eles oportunidades de conversa, de refeições em família, de sair na rua juntos, brincar nos parques, subir no trepa-trepa, ralar o joelho no chão, cair do skate (com capacete!), subir numa árvore, levar um zero, aprender com a frustração: tudo isso é importante para formar uma criança mais feliz e um adulto mais íntegro, preparado para conviver com o outro. Pra saber respeitar o outro a primeira coisa que a criança tem que entender é que ela não é o centro do mundo. Ela é um membro da família e ter relações igualitárias com os outros membros da família vai fazê-la entender que ela vive numa sociedade. Esse é o nosso papel como pais.

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